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  • Foto do escritorcontatofelopes

João e o vento

Fe Lopes


Ventava tanto na hora que a médica falou daquele problema que tinha no meu útero, que até as fotos de bebes nascidos caíram da parede.

Só que 3 meses depois João decidiu vir. Fez barriga crescer, peito doer e me deixava constantemente num enjoou igual quando saia de barco com meu pai. Nunca gostei de água, de barco, mas meu pai fazia questão de me levar pra velejar. Quando João resolveu morar na minha barriga parecia tanto milagre que até de ficar mareada eu gostava.

A Dra disse que se esse enjoou não melhorasse até 12 semanas, lá pras 20 com certeza passava. Dito e feito: parece que quando ele começou a mexer a gente desceu do barco, pisou em terra firme e acabou o enjoou. Ate fome eu tive! Que gostoso era sentir aquele peixinho nadando de um lado pro outro na minha barriga. Marco colocava a mão, mas não sentia direito nosso menino mexer.

Na mesma semana que o barco parecia ter atracado de vez, o médico do ultrassom falou que nosso garotinho parecia pequeno demais. A gente nem ligou, porque João já ocupava todos os espaços da nossa vida.

Mas na semana seguinte eu enjoei de novo, e de novo, e achei que ele estava muito quieto dentro de mim.

Ventava forte nessa noite. Marco não tinha voltado ainda. Deitei sozinha e sonhei com papai num barco a vela, João já era garoto grande, e estava do lado de papai. Eu na areia da praia, gritando, e eles indo longe, longe, mar a dentro, sem me ouvir dizer pra que tomassem cuidado com vento.

Acordei, meu útero era puro silencio.

Não ventava mais.


Fe Lopes

2021


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